terça-feira, 22 de maio de 2007

Nanotecnologia vai se tornando uma realidade para medicina e cosméticos

Carolina Landulfo / USP Online carolsl@usp.br

De acordo com o professor Henrique Toma, do Instituto de Química (IQ) da USP, “a nanotecnologia vai movimentar por volta de um trilhão de dólares nos próximos 10 anos”. Ele ainda diz que a técnica já está entre as cinco prioridades nos países desenvolvidos: “é a chance do Brasil pegar o bonde - que já está atrasado - e desenvolver-se nessa nova tecnologia”, afirma.

Nanotecnologia é a aplicação da ciência de sistemas em escala nanométrica. Um nanômetro (nm) é 1 bilionésimo de metro. Nesta dimensão, os materiais têm comportamentos especiais e possuem maior eficiência nas suas propriedades. É possível, usando as técnicas e ferramentas adequadas, colocar cada átomo e cada molécula no lugar desejado.

A manipulação do átomo pode permitir guardar informações a nível atômico, sendo assim, espera-se que os nanocomputadores sejam 1000 vezes mais rápidos que os atuais e que consigam armazenar 1000 vezes mais informação. Já na área médica, essa tecnologia abre outras perspectivas: pesquisas ao redor do mundo estudam a possibilidade de construir nanomáquinas, capazes de interagir com as células humanas ou mesmo com componentes das células, como o DNA. Esta tecnologia permite, por exemplo, criar pequenas máquinas que circulam na corrente sanguínea e que estão concebidas para detectar e destruir células cancerosas. Também permite criar pequenas máquinas programadas para corrigir doenças genéticas alterando o DNA de cada célula.

Ainda são suposições e pesquisas, porém, com o investimento feito, principalmente por países desenvolvidos, os avanços na área nano podem acontecer rapidamente.
E um exemplo desse avanço vem do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), órgão apoiado pela USP que procura dar auxílio administrativo e científico a micro e pequenas empresas com planos de negócios inovadores na área tecnológica. A empresa Incrementha, que lá está incubada, anunciou o primeiro fármaco desenvolvido com nanotecnologia no Brasil: um anestésico local.

Um dos diretores da empresa, Enri Suzuki, ressalta como o uso da nanotecnologia possibilita uma maior eficácia e segurança ao produto: “por ser uma tecnologia que trabalha na escala nano - com átomos -, permite uma maior eficácia, através do direcionamento do fármaco ao local que ele deve ser liberado e em uma velocidade maior”, explica. Devido ao caminho direto do medicamento ao “alvo”, haverá, segundo Suzuki, uma diminuição da dose recomendada, “contribuindo para a redução dos gastos e do contato do produto com outras regiões do corpo”.

O empresário ainda destaca um outro benefício dos medicamentos que se utilizam da nanotecnologia: a ação mais prolongada. “Com a dose certa no local exato se terá um prolongamento dos efeitos terapêuticos”, diz.

O anestésico deve ser finalizado até o final de 2008. “Acabamos a fase laboratorial do produto e os testes animais. Vamos iniciar agora uma etapa de ampliação de escala de produção e início dos testes em humanos”, afirma Suzuki.

Segundo o diretor, o produto será comercializado inicialmente no Brasil, para depois ser inserido no mercado externo: “esse é o primeiro nanofármaco genuinamente brasileiro. Queremos, a partir dele, expandir a participação do Brasil no mercado farmacêutico mundial, que hoje é só de 1,8%”.

Revolução
A nanotecnologia representa uma revolução na medicina? Para o professor Toma, ainda não. Ele afirma que a nova tecnologia tem um potencial enorme e uma “aplicação fantástica” em fármacos, porém ali sua percepção é mais lenta que em outras áreas. Além disso, ele reforça o poder da nanotecnologia e a necessidade de ser utilizada por um profissional de alta competência: “por estarmos lidando com átomos, temos a ventagem de poder introduzir na célula componentes terapêuticos e vitaminas. Porém é possível também produzir coisas que podem fazer mal, pois, por serem muito pequenas, irão passar despercebidas pelas barreiras naturais do organismo”, explica.

A revolução, de acordo com o professor, está, por enquanto, afetando mais outras áreas: “pode-se dizer que a nanotecnologia está revolucionando o ramo de materiais, a indústria de embalagens, plásticos, tornando-os mais inteligentes, bioambientalmente corretos”.

Outro setor que o professor ressalta o progresso é a indústria têxtil: “pode-se aumentar a resistência física do tecido, proporcionando vários benefícios, como respiração pelo tecido e restrição de umidade. Além disso, estão se desenvolvendo tecidos antibacterianos”, afirma Toma.

Cosmetologia
Não chega a ser uma revolução, pelo menos por enquanto; porém, a nanotecnologia já atingiu também a área dos cosméticos, e com bons resultados. Os produtos de beleza tradicionais, segundo o professor Toma, atuam de forma superficial na pele, apenas para encobrir defeitos e falhas, de maneira paliativa. A nanotecnologia proporciona a manipulação das partículas atômicas do produto, permitindo aumentar o poder de penetração na pele em vários níveis. “Um anti-rugas, por exemplo, não vai esconder a ruga. Mas sim eliminá-la, estimulando, por meio de células germinativas, o aparecimento de novas células sadias”.

Toma acredita que o mercado de cosméticos, devido à nanotecnologia, tende a crescer consideravelmente. Principalmente porque o fator custo, para o professor, não é um dos “grandes empecilhos para o consumo desses produtos”.

Futuro
Assim como no ramo de cosméticos, Toma diz que a nanotecnologia nas demais áreas pode e deve desenvolver-se no país. Ele afirma que essa é a última tecnologia que o mundo pode atingir, sendo assim, o Brasil precisa “investir na área e aumentar as iniciativas que ainda são escassas”. Além disso, o professor ressalta a importância da cultura nano chegar à população: “em pouco tempo essa tecnologia pode estar no nosso dia-a-dia e a maior parte das pessoas não sabe o que ela significa. É a oportunidade de se debater a nanotecnologia que, logo, vai mexer com todos os setores da humanidade”, conclui.

FONTE: http://noticias.usp.br/acontece/obterNoticia?codnucjrn=1&codntc=16289 - 21/05/07

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